PIRUÁ, 2019
Centro de Arte Contemporânea W, Ribeirão Preto, São Paulo
Curadoria Yolanda Cipriano e Josué Mattos
Tangerina Bruno: Piruá
Piruá, para os não paulistanos que, porventura, desconheçam o termo, é o milho de pipoca que não estourou. Rejeitado por muitos, é desejado por alguns. E, posso garantir, apesar do risco "quebra dentes", certos piruás trazem sabores especiais a quem tem a "ousadia" de comê-los.
A obra "Autorretrato" presente na mostra revela ao visitante que a instalação dos gêmeos Tangerina Bruno lida com algo além da experiência lúdica de estourar pipoca e suas reminiscências nostálgicas de infância. Essa doce estória é apenas aparência, como ledo engano vivenciará quem tomar por pipocas reais (prestes a murchar e perder o gosto) as esculturas veristas de argila cromada espalhadas pela dupla pelas paredes e pelo chão do espaço expositivo. Sob uma aparente receita ilustrada de "como fazer pipoca", Cirillo e Letícia imaginam a receita de "como fazer gente grande". A personalidade humana, quase sempre, necessita ser forjada a "ferro e fogo" para transmutar-se em algo novo e, quiçá, melhor. Se, em alguns momentos, essa metamorfose se opera de forma suave, branda, incidiosa e quase imperceptível; na maior parte das vezes, são necessárias crises líticas sob tempestade espessa de energia e angústia.
Autorretratos são o esboço de uma tijela com uns poucos piruás e grãos de sal, o que sobrou após o desejo saciado dos festivos comedores... O resto é o autorretrato de uma vida, de um personagem, de uma personalidade que lutou por uma vida de momentos felizes e crises transformadoras. O que fica de nós (seja em livros, quadros, fotografias, obras ou memórias frágeis dos vivos que ficaram) são restos... indigestos, lesivos ou extremamente saborosos, mas sempre mera fração imperfeita e inconclusiva, da essência de nosso ser. Mas esses fragmentos dismórficos são o melhor de nós que podemos aspirar legar ao mundo.
Daré, artista visual. Outubro de 2019.
Propondo a ação de estourar pipoca para receber o público durante toda a visitação, nos interessamos em ativar a copa como parte do espaço expositivo através de uma site-specific.
Para performar essa ação, foram utilizados os mesmos utensílios que manuseamos no nosso dia-a-dia e que aparecem retratados nas pinturas de Piruá.
Para performar essa ação, foram utilizados os mesmos utensílios que manuseamos no nosso dia-a-dia e que aparecem retratados nas pinturas de Piruá.
Associada às pinturas, às esculturas e à instalação sonora*, a ação de preparar pipoca no espaço cria um jogo entre os cinco sentidos e a noção de realidade versus ficção.
*duração de 3:40m, reproduzida em loop.
A gravação presente durante toda a exposição, registra o som do preparo de pipoca, do selecionar os grãos até o momento de salgar o milho transformado.
Essa mesma relação também acontece entre a pintura ao lado da bancada, a vassoura e a pá. Sobre a pá, um copo quebrado que possui a mesma estampa do copo presente na pintura. Em que momento ele se quebrou? É fruto de um descuido dentro do espaço expositivo ou uma obra?
[detalhe] Autorretrato, 2019, acrílica sobre tela 100 cm de diâmetro.
[detalhe] instalação, 2019, esculturas em argila, dimensões variáveis.